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Os esboços de Glauco revelam o processo criativo do cartunista na próxima Ocupação do Itaú Cultural

No dia 9 de julho, o instituto abre a Ocupação Glauco, 30ª da série, em que centenas de desenhos, tiras, charges, personagens, depoimentos, audiovisuais e um nicho dedicado ao seu lado espiritual mostram a história deste que é uma das principais personalidades brasileiras na arte do cartum e das charges que influenciaram leitores com os seus traços precisos e críticos

 

Com mais de 200 obras desenhadas pelo cartunista, o Itaú Cultural dedica a sua 30ª ocupação a Glauco Vilas Boas (1957-2010), mais conhecido pelo primeiro nome. A Ocupação Glauco abre no sábado, dia 9 de julho, encerra em 21 de agosto, e, como nas anteriores, o objetivo é apresentar a obra produzida pelo homenageado e também o universo por onde se movimentou, forjando a sua personalidade artística e modos de criar. A curadoria é assinada pelo Itaú Cultural, por meio de seus núcleos de Audiovisual e Literatura e de Comunicação, com acompanhamento da família. A cenografia é de Thereza Farias. A Ocupação se estende, ainda, a uma publicação virtual e um hotsite, a serem lançados no dia da abertura no site do Itaú Cultural, e a programação ligada aos quadrinhos.

 

Com o humor ácido que lhe era peculiar – uma das características de sua percepção muito particular das pessoas, da política e do cotidiano – Glauco dizia que Deus é um humorista por ter colocado tantas figurinhas na terra. Tiradas como essa permearam grande quantidade de personagens criados por ele com traços precisos e conteúdo crítico – como Geraldão, Geraldinho, Faquinha, Dona Marta, o casal Neuras, Zé do Apocalipse e muitos outros. As suas tirinhas de jornal eram leitura obrigatória todos os dias e a sua personalidade arrebatava quem vivia ao seu redor ou acompanhava a sua trajetória de longe.  Uma aura mística o envolveu em sua vida e marcou definitivamente a última fase, encerrada prematuramente.

 

“Ele passou aqui na terra como um verdadeiro professor, ajudou muita gente e deixou uma obra artística com um estilo único, além de um legado de muito respeito, muita admiração, e uma saudade imensa”, diz Beatriz Veniss, com quem ele foi casado por 15 anos, interrompidos pela sua morte.

 

“Assim como Van Gogh, Garrincha e John Lennon, Glauco era uma força da natureza, um cometa que passou por aqui. Essa força da natureza, desconcertante e presente em todo o seu legado artístico e espiritual, permanece entre nós que por aqui ainda estamos”, conclui o seu amigo Toninho Mendes, com quem trabalhou de 1984 e 1995 na Circo Editorial.

 

A exposição mostra detalhes do processo de criação de Glauco, dos primeiros esboços até a arte finalizada, a diferença de traço e também como a ideia se formava até resultar na composição final da HQ. Apresenta, ainda, um pouco da personalidade do artista, principalmente nas observações e recados que deixou nas margens de seus trabalhos.

 

A mostra

Entre as duas centenas de obras encontram-se na Ocupação Glauco esboços de personagens, HQs e fontes, rabiscos, charges, tirinhas, desenhos – finalizados ou não – personagens conhecidos, outros nem tanto. Também quadrinhos só feitos a lápis ou finalizados a nanquim, inteiros, ou em parte, para montagem posterior, muitos deles com anotações e bilhetes. Tudo faz parte do acervo guardado por Beatriz, centenas de originais acumulados em mais de 30 anos de trabalho, iniciado com a primeira publicação no jornal Diário da Manhã, de Ribeirão Preto, em 1976.

 

Além dos originais, a exposição apresenta muitas tiras e charges impressas, exemplos da montagem manual da diagramação da revista Geraldão, editada quando ainda não havia computadores, e exemplares da revista, contemplando o processo completo de criação de uma história em quadrinhos.

 

Ela conta também com ferramentas de acessibilidade, como um mapa tátil e audioguias que descrevem os personagens e as tirinhas. Em algumas delas, o personagem é reproduzido em relevo e a sua descrição em braile.

 

O percurso pela mostra começa com as criações do cartunista de braços e pernas multiplicados, marca registrada do autor, e presentes nos originais de Geraldão e Geraldinho apresentados em placas deslizantes e estilizados tridimensionalmente em bonecos feitos de arames. Destacam-se também outros como Dona Marta, Zé do Apocalipse, Doy Jorge. Alguns dos desenhos, os mais ousados, só podem ser vistos por meio de um buraco de fechadura – referência à capa da primeira revista do Geraldão, em que o personagem espiava a mãe no banheiro.

 

A sátira glauconiana à situação política do país, da abertura política ao segundo mandato de Lula, está fartamente representada em sua produção e um nicho focado no tema ganha espaço na Ocupação. Incluem-se aqui desenhos variados, que ele fez quando o Brasil se abria para a democracia. Satirizam figuras da política brasileira, como os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso, e outros políticos daquela época. Paira sobre a produção uma atualidade desconcertante.

 

Mais de 100 metros quadrados abrigam essa Ocupação, arquitetada em um espaço diáfano que toma partido do papel vazio onde o artista rabisca e as obras ganham vida saindo do rolo de papel de desenho. Ao fundo há um nicho dedicado aos principais relacionamentos do cartunista, com depoimentos em vídeo de alguns deles, como o seu irmão Pelicano, de mesma profissão. Não faltam referências a Angeli e Laerte, com quem Glauco produzia a série de HQs Los 3 Amigos. É lembrado, ainda, o tempo em que ele dividiu moradia com outros dois cartunistas, Nilson Azevedo e Henfil – este último um dos  desenhistas

que mais influenciou Glauco em seu início de carreira. O público também tem à disposição, para manusear, revistas que Glauco ajudou a criar e abrigaram seus quadrinhos.

 

Rincão espiritual

Por fim, um nicho é dedicado a aspectos pessoais de Glauco, incluindo a espiritualidade que marcou a derradeira etapa de sua vida. Em 1993, ele fundou a igreja daimista Céu de Maria, onde também vivia, em Osasco, próximo ao Pico do Jaraguá. Ao lado de Beatriz, conduzia trabalhos do Santo Daime, registrou hinos cantados durante os cultos, e tornou-se um reconhecido e respeitado líder espiritual.

 

Na Ocupação o visitante encontra uma estilização do altar, hinários e outros objetos que remetem a esse ambiente religioso e um vídeo produzido pela equipe do Itaú Cultural sobre o Céu de Maria.

Nascido em Jandaia do Sul (SP), no dia 10 de março de 1957, Glauco foi assassinado em sua casa na madrugada de 12 de março de 2010, dois dias depois de completar 53 anos, em um ato que acabou com a vida também de seu filho Raoni Vilas Boas.

 

 

Hotsite, publicação

Com esta Ocupação, o Itaú Cultural soma 30 edições. Em cada uma apresentou ao público diferentes formas de fazer arte em formatos sempre diversificados dentro dos mesmos 100 metros quadrados do Piso Térreo, que se transformam em espaço expositivo. Como nas anteriores, a Ocupação Glauco se estende a uma publicação impressa e ao hotsite hospedado em www.itauculutural.org.br a partir do dia da abertura da mostra. O objetivo é explorar aspectos complementares à exposição, com mais informações sobre a carreira do homenageado e análises de aspectos de sua obra.

 

As imagens que as ilustram incluem reproduções dos originais, e uma gama diversa de tiras, charges e ilustrações que compõem o conteúdo. O site conta, ainda, com entrevistas em vídeo com os parceiros já citados Angeli, Laerte, Pelicano, Nilson, Beatriz. Além do editor Toninho Mendes, que trabalhou com Glauco na Circo Editorial, entre 1984 e 1995 – onde fizeram os 10 primeiros números da revista Geraldão e os livros Geraldão Espocando a Cilibina e Abobrinhas da Brasilônia –, o ilustrador Emilio Damiani, com quem Glauco trabalhou na Folha e na revista Geraldão, e os fundadores do Céu de Maria, ao lado dele, o psicólogo Leonardo Christo e o jornalista Orlando Cardoso de Oliveira.

 

Programação complementar

Como também já é de costume, o Itaú Cultural promove algumas atividades relacionadas ao homenageado na Ocupação. Nesse caso, é o mundo dos quadrinhos, que é o de Glauco: na série Caminhos da HQ, todas as quartas-feiras de junho, quadrinistas como Marcatti e Klebs Junior, entre outros, conversam com o público sobre o tema. Na Banca de Quadrinistas, um espaço de convivência e feira de quadrinhos, o público interage com os expositores. Na programação do primeiro Fim de Semana em Família de julho, o mesmo da abertura da mostra, o quadrinista Gus Morais, ministra oficina de Brincando de Montar Quadrinhos.

 

Em agosto, Toninho Mendes relança no instituto o primeiro livro do cartunista, Minorias do Glauco, pela editora Peixe Grande, em parceria com o Itaú Cultural. O livro completou 34 anos em maio e apresenta uma síntese do humor e do traço do artista, como um prenúncio de sua produção. Estão nele Dona Marta, Geraldão, um casal neurótico e outros tipos que Glauco retratou com seu traço leve e aberto.

 

SERVIÇO

Ocupação Glauco

De 9 de julho a 21 de agosto

De terça-feira a sexta-feira, das 9h às 20h

Sábado, domingo e feriado, das 11h às 20h

Piso Térreo

Indicada para todas as idades

Entrada gratuita

Itaú Cultural

Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô

Fones: 11. 2168-1776/1777

Acesso para pessoas com deficiência física

Ar condicionado

Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho.

R$ 10 pelo período de 12 horas.

Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:

3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10

Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

www.itaucultural.org.br

 

 

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