RELEASE MOSTRA

Exposição Arquivo Ex Machina trata da identidade e conflitos na América Latina em imagens autorais, arquivos e coleções

 

A mostra que este ano acompanha o IV Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo, cujo eixo se estrutura na foto como pensamento e lança o seu autor como observador e objeto de debate, traz imagens de arquivos institucionais, de coleções particulares e autorais; revela e questiona o modo de guardá-las através dos tempos; demonstra, ainda, como a história da região pode ter sido mascarada por uma visão europeizante e como pode ser recuperada, redescoberta e recontada na atualidade.

 

 

De 15 de junho a 7 de agosto, o Itaú Cultural apresenta Arquivo Ex Machina – Identidade e Conflito na América Latina. A mostra tem curadoria do brasileiro Iatã Cannabrava e do catalão Claudi Carreras, ambos fotógrafos, reúne 10 conjuntos de trabalhos fotográficos. Entre obras autorais e arquivos ou coleções revisitadas, soma cerca de 150 impactantes imagens. O projeto expográfico, que se espalha pelos Pisos 1 e -1 do instituto, tem a assinatura de Frederico Teixeira e Penelope Casal de Rey.

 

Com três linhas de pesquisa definidas – uma nova forma de olhar velhos arquivos, a manipulação dos sais de prata e o documento inventado –, Cannabrava e Carreras saíram a campo pela região latino-americana. Encontraram pesquisadores, curadores, colecionadores e artistas, uns com trabalhos autorais, outros que buscam resgatar o arquivo fotográfico esquecido em gavetas, álbuns e porões para ressignificá-lo, dotando-o de novos e inesperados sentidos.

 

Chegaram, por fim, a Ex Machina – expressão do latim, criada no teatro antigo grego para definir a entrada em cena de um deus cuja missão era solucionar de forma arbitrária um impasse vivido pelos personagens. A mostra reúne no piso 1 um recorte histórico, com obras como La Huella Invertida, um conjunto de fotos expostas pelo equatoriano Coco Laso. Elas foram feitas pelo bisavô do artista, que interferia nas imagens apagando os índios das placas de impressão dando uma falsa ideia de como era a população do Equador nos tempos da colonização. A Boa Aparência, obra do mineiro Eustáquio Neves, é contundente ao refletir desvios culturais que seguem incrustrados na sociedade até o cotidiano atual no modo de julgar os negros pelas suas feições.

 

Ainda neste andar, também merece atenção o Arquivo Nuñez de Arco, do colecionador boliviano Javier Nuñez del Arco. Trata-se de material perdido do fotógrafo, cinegrafista, escritor e correspondente de guerra alemão Hans Ertl, que posteriormente fixou residência na Bolívia. Nuñez encontrou as fotos há 15 anos em uma velha caixa de sapatos em um antiquário boliviano. As imagens estampam todos os estereótipos colados aos anões, segundo o olhar dos europeus que não entendiam a diversidade e a representavam caricaturalmente.

 

No piso -1, o recorte tem um viés mais politizado e se esparrama sobre algumas obras recentes e outras, em grande parte, que tratam de temas das décadas de 1960 e 1970. Em Operação Condor, as fotos do português João Pina contêm um impactante relato do que foi essa operação tirana, que envolveu seis países latino-americanos, nos anos de 1970, quando a América Latina era governada por ditadores. Na obra 1968, o Fogo das Ideias Marcelo Brodsky traz a representação plástica daquele que foi um dos mais importantes movimentos em rede de uma época em que não se falava de redes. Trata-se de uma série de imagens capturadas em manifestações realizadas naquele ano em diversas cidades do mundo, como São Paulo, Rio de Janeiro ou Paris, em que o próprio artista faz intervenções a mão.

 

Entre as mais recentes, encontra-se Cabanagem, trabalho do brasileiro André Penteado realizado entre 2014 e 2015. São fotos e um vídeo sobre sua pesquisa no Pará. Aqui o trabalho envereda pela linha de pesquisa « documento inventado », ao observar que é possível criar documentação para interpretar o passado, mesmo sendo contemporânea.  O assunto do fotógrafo é a Revolta dos Cabanos, na selva ao norte do Brasil, pela qual comprova que no passado, no presente e, provavelmente, no futuro, o abandono dos dirigentes e dos trópicos gera ódio e violência.

 

Em Arquivo Morto, Andrés Felipe Orjuela Castañeda apresenta um trabalho cuja temática são as drogas, armas, munição, violência e repressão – único conjunto não recomendado para menores de 12 anos. Bajo Sospecha: Aqui Somos todos Suspeitos, obra do chileno Bernardo Oyarzún, no mesmo andar, mescla a fotografia como documento, como arte e como performance, lembrando que todos estamos prontos a aceitar visões equivocadas, desde que apareçam documentadas oficialmente. Basta dizer que o fotógrafo criou esse conjunto de mais de 160 imagens depois de ser confundido com um delinquente por sua aparência. Usou o seu próprio rosto e de 164 familiares.

 

 

Trabalho de pesquisa

Jorge Villacorta, pesquisador, crítico e curador do Centro da Imagem, em Lima, no Peru, apresenta Arquivo Rikio Sugano – Arquivo Centro de la Imagen. O homem que dá nome à obra viveu de 1887 a 1963. Foi um aventureiro japonês que viajou o mundo inteiro e esteve no Peru de 1923 a 1924, retratando-se em planos inusitados em busca do exótico – pode ter sido o primeiro a ter obsessão pelos selfies.

 

Em Arquivo Fototeca Nacional de México, a pesquisadora, curadora mexicana e subdiretora da Fototeca Nacional do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) Mayra Mendonza traz uma série de imagens que comprovam como não é nada acidental a construção do discurso na encenação fotográfica. No caso, o objeto é sombrero mexicano, um ícone nacional, cuja representação tanto pode ser pela alegria quanto pela violência.

 

 

SERVIÇO

Arquivo Ex Machina – Identidade e Conflito na América Latina

Coquetel de abertura:  15 de junho, às 20h

Visitação: 16 de junho a 7 de agosto

De terça-feira a sexta-feira, das 9h às 20h

Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h

Pisos 1 e -1

Indicado para todas as idades, com exceção do conjunto Arquivo Muerto, recomendado para maiores de 12 anos.

Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108

R$ 15 pelo período de 12 horas.

Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural: 3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 15.

Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

Acesso para pessoas com deficiência física

Ar condicionado